Friday, September 29, 2006

Demissão

Exma. Directora Sónia Manuela Alves Tadeu,

Venho por este meio comunicar-lhe a rescisão do contrato que me vincula à empresa que V. dirige, por motivos de que se prendem com a arquitectura e construção do escritório que albergam esta, mais precisamente com a localização do meu gabinete. Como V. saberá, para a concentração e destreza intelectual necessárias ao desempenho das minhas tarefas é absolutamente necessária uma constante tranquilidade e silêncio absoluto para minimizar as distracções tão funestas a um bom desempenho, naturalmente da maior importância para a produtividade desta empresa. Uma pequena falha na revisão de grandes volumes de números com que diariamente lido pode trazer prejuízos da maior gravidade, e apesar de felizmente nunca se ter dado qualquer caso dessa natureza, a presença constante do risco de tal acontecimento é para mim fonte de enorme consternação e inquietude, dadas as condições em que presentemente exerço as minhas funções. Ora como V. certamente saberá, a recente reorganização do espaço no escritório colocou-me no gabinete do fundo, facto a que não coloquei qualquer oposição, por ser um espaço amplo, com uma janela grande por entra uma bonita luz natural e que contribui para um bom ambiente de trabalho. Não podia porém imaginar, na altura em que aceitei esta nova disposição física, que o espaço contíguo ao meu novo gabinete fosse comprometer tão profundamente o meu desempenho. Creio, se me permite, que V. estará a imaginar no momento em que lê estas linhas que o corredor de passagem do outro lado do meu gabinete e o seu natural ruído característico são a fonte de perturbação do meu trabalho, mas muito pior do que esse facto, peço a V. que faça o exercício mental de reconstruir a arquitectura dos pisos deste prédio onde a empresa de V. se situa, e identificar qual o compartimento contíguo à parede que tenho exactamente por trás da minha secretária e da minha pessoa. Após esse exercício creio que se tornará muito mais simples para V. entender que o ruído dos tacões de V. ou de outra colaboradora desta empresa é efectivamente incomodativo quando passam no corredor - e perdoe-me o atrevimento mas eu sei que neste momento foi V. que passou porque reconheço o passo curto e acelerado que a caracteriza -, mas seguramente a verdadeira fonte de problemas e a origem desta carta está no destino que V. está a tomar e que a leva neste momento atrás de mim, separados por uma parede que contém a canalização necessária para uma primeira descarga, incómoda, e unidos por uma chuva torrencial que cai e nos faz aguardar até o sol doirar assim que os últimos pingos caiam nas poças com a perturbação ondulatória que as contas saem todas trocadas e só mais um pequeno chuveiro rápido e inesperado e eu saio porque V. me perdoe mas mesmo após a segunda descarga eu já não consigo fazer nada de jeito e a minha cabeça já está perdida nesses raios de sol que espelham a desconcentração perdida porque já vai outra a seguir e, olhe eu não sei não dá e pois o sol chove mais e ela não posso não poça não nada


Eu peço imensa desculpa, mas não posso continuar. Queira V. aceitar a minha demissão.

Com os melhores cumprimentos,

A.

O muro branco

Como era possível, ela não conseguia explicar, nunca tinha ouvido semelhante coisa e tinha a certeza absoluta que não tinha guardado no seu computador - nem tão pouco copiara para o leitor de MP3. E não o emprestara a ninguém, isso era certo, e por isso como aquela música misteriosa tinha ali ido parar era um mistério.
A primeira vez que a escutou estava deitada na relva do parque, ao fim do dia de Verão. Era uma balada bonita, cantada por um tipo que parecia ser novo pela voz (agradável, por sinal), e com um refrão que dizia qualquer coisa deste género:


...E quando vires o muro branco
Não o contornes, não corras tanto
O portão não vai chegar tão cedo
E o teu tempo já não é demais

E quando chegares à floresta rosa
Escuta o pássaro, aprende o canto
Se queres beber do seu bico
Tens que saltar o muro branco.

A melodia entrava facilmente no ouvido, e a voz daquele estranho era a perfeita companhia para o descanso no relvado, onde ela acabou por adormecer. Acordou quando o sol estava prestes a pôr-se ao longe, no horizonte. Lançava a sua língua pela última vez naquele dia, tomada de tons de fogo áspero, lambendo a copa das árvores ao fundo do parque, onde os pássaros se recolhiam. O leitor de MP3 tinha entrentanto ficado sem bateria, enquanto dormia. Mas ainda havia luz suficiente para entrar por entre as árvores.

Tuesday, September 26, 2006

O Segredo da Vida

p
de bac
alhaupun
hetasdebacalh
aupunhetasdebac
alhaupunhetasdebac
alhaupunhetasdebacalh
aupunhetasdebacalhaupun
hetasdebacalhaupunhetasdeb
acalhaupunhetasdebacalhaupunh

Monday, September 25, 2006

Interrogação acentuada

E agora como é que pensas escapar à prisão de pedra e chapa e pó amarelo de restos antigos de outras casas outrora aqui construídas se até a máscara de pedra que um dia foi feita de carne como tu se perde entre as outras pedras fendidas e acostumadas ao passar dos tempos lentos e agonizantes dos quais fuga qualquer parece ser possível como se tudo se resumisse a uma incontornável sentença de rendição aos anos acumulados pela pressa que não tiveste nem ela a tua máscara porque afinal ela é a tua metáfora e a tua representação imortalizada no granito fendido como tu que estás golpeado com uma profundidade de morte tão lenta quanto tu a quiseste e tens?

Sunday, September 24, 2006

A procissão molhada

Não posso adorado Frei
Amar aquela que sei
Cuspir no chão
E coçar-se com a mão

Não posso senhor Prior
Aguentar a dor
De casar com a Justina
Pois cheira o meu fato a naftalina

Não posso meu bom Abade
Sentir grande saudade
Da Sónia Manuela
Que me fazia o arroz-doce sem canela

Não posso senhor Bispo
Namorar sem um Kispo
Pois que chove na minha rua
E a culpa, ora pois, é toda sua.

Thursday, September 21, 2006

A tua obsessão

Na A29, entre Porto e Aveiro, algures perto de Ovar existe uma igreja antiga, que se vê da estrada.É feita em pedra, e tem duas torres, com um ar simples, tosco, e quase abandonado. Fica junto a um viaduto, e à noite é iluminada pela luz amarela de um poste de iluminação pública. Esta igreja tornou-se a tua obsessão, sempre que lá passas à noite. Durante o dia inspira-te a recordação da sua fachada, sob a luz amarela e crua.

Sabes que tens que ir lá, uma noite, por um motivo que te ultrapassa. Vai sozinho, ou melhor dizendo, vai com o bruxedo que te mantém nessa inquietação. Também não sei o que vais lá encontrar, nem sei o que se irá passar. Sei apenas que deves ir em breve, porque essa ansiedade já não aguenta muito mais.

Prometes que me contas depois o que se passou? Eu fico aqui no quarto à tua espera.

Morte Oferecida

Sabes muito bem que se eu pudesse ver o que vai debaixo do teu vestido de Verão morreria nessa mesma noite, lentamente, como se tivesse um tomado veneno suficientemente forte para me consumir em espasmos dolorosos, como um prazer levado longe, demasiado longe. E também sabes que anseio essa morte com a força de querer viver, debaixo desse tecido branco, perdido nos teus seios de calor tenso e gosto salgado pelo suor que respiras, como um labirinto cuja saída quero ignorar, uma vez aí perdido.

E no entanto, sorris com a mesma candura que sempre conheci nos teus lábios, nas tuas maçãs salientes que não te deixam jamais envelhecer. São tudo tontices, não é verdade? Eu sei que é assim que tu pensas.

Mas nesse caso, porque não me mostras o mundo para além do teu vestido de Verão? Existe um fundo de receio pela minha morte, se o fizeres? Acreditas em mim, afinal?

A decisão é inteiramente tua, já nada tenho a perder. Estou pronto.

Ao meu querido Professor

Diga-me professor, o que representam estes desvios? Está outra vez a querer uma incursão no surrealismo? Parece-lhe poder ganhar algo de novo com isso?

E o humor, porque se perde? E o romantismo, porque se apura?

Talvez ainda seja precoce para responder a estas questões. Sei porém que está a acontecer algo para além do seu controlo, da sua vontade. Será talvez a teoria unificadora a ganhar forma, aquela que criará finalmente o seu mundo e o tornará independente, auto-suficiente para viver isolado. Talvez esperasse ter mais intervenção neste processo, mas não se preocupe. Afinal de contas, essa impotência de mero espectador que nos deslumbra, enquanto um universo se cria diante dos nossos próprios olhos.

Mas por agora, ainda há um longo caminho a percorrer, deixe-o tomar o seu curso natural. Ao trabalho, professor!

Tudo em Família

Maria Luciana Alves Em
Doze de Agosto do mês passado
na companhia da prima Joana Almada
Decidiu por livre e espontânea vontade

Despovoar o monte-de-Vénus
Com o auxílio de um espelho
E uma lâmina romba do tempo da Guerra
de Catorze Dezoito onde o avô

Justino Alves matou
Quatro perdizes com a sua mauser
Até ficar encravada
Na greta da avó Luísa Almada.

Para desgraça dos netos
Dos oficiais e do Kaiser
A Guerra repetiu-se pela segunda
E só terminou no Domingo.

Tuesday, September 19, 2006

O Pólo Vermelho e o Cabeçudo desconhecido

Equilibrar toda a estrutura era complicado, mas o pior era o calor que sentia dentro do cabeçudo, enquanto desfilava pela rua, ao som dos bombos na frente. Pelos passeios em ambos os lados da rua apinhava-se uma pequena multidão em festa. Ele sentia a cabeça toda transpirada do calor, fazia comichão na nuca, e os fios de água escorriam pela testa, sem os poder limpar.
Todo esse desconforto do aparato que envergava foi porém esquecido no momento em que alguém do passeio lhe acenou com o braço, e que ele não conhecia. No seu rosto ela tinha uma expressão risonha, um sorriso ternurento e de cândida meninice, não menos do que adorável. Vestia um polo vermelho garrido, com uma risca branca em todo o seu redor, e com a mão ajeitava os cabelos que lhe cruzavam os olhos por causa do vento;e saudava-o com uma familiaridade que ele não compreendia, e que julgou ser um mal-entendido, alguém que o confundira com outro cabeçudo. Ela porém não parava de lhe acenar e de lhe sorrir, como se a qualquer momento estivesse prestes a sair do passeio para o abraçar na rua, em pleno desfile.
Ao fim daquele dia, depois de toda a festa ter acabado, regressou a casa, com a enorme cabeça que fazia questão de guardar, até ao ano seguinte. Tinha um canto na garagem transformada em espaço de arrumos para a sua cabeça festiva. Colocou-a no seu sítio e ia deitar-se, sentia-se exausto depois do dia tão longo e tão cansativo. Algo porém lhe captou a atenção no momento em apagava a luz: um polo vermelho com uma risca branca pousado sobre uma cadeira antiga que tinha ali arrumada, um polo tão familiar quanto estranho pela sua presença ali. Aproximou-se e pegou nele, ao que o seu toque ainda respirava o corpo morno de alguém. Tomou então um marcador preto que tinha sobre uma mesa, e na faixa branca escreveu o seu nome. Para que no ano seguinte, quando ela lhe acenasse, não fosse mais um estranho oculto por uma cabeça que não era a sua.

Sunday, September 17, 2006

Cuidado

Estou a tornar-me muito romântico nas histórias. É necessário rapidamente compensar com algo do velho género, algo digno da Sónia Manuela.

Promessa esquecida

O Cadillac do princípio dos anos 70 era uma máquina preta gigantesca. A grelha da frente impunha um respeito presidencial, os estofos eram sofás de couro autêntico, e o depósito era parecia pequeno para aquela besta sedenta de galões de gasolina. Tinha-o trazido da América, um dos frutos de trinta anos de trabalho no Texas, onde comprara o chapéu branco de cowboy com que gostava de passear ao fim-de-semana, junto à praia. Era o Rei, de nome e de pinta. Os miúdos da vizinhança chamavam-no o King.
«King, vamos às babes?»
E atrás do volante, dava duas aceleradelas, perpetuando o espírito americano com o chapéu posto e uns óculos de sol espelhados, também comprados do outro lado do oceano.
Foi num Domingo: estacionou o Cadillac em frente ao mar, e pôs a tocar uma das suas velhas cassettes de Country que o deixavam com uma nostalgia aconchegante. O horizonte estendia-se até tocar o céu azul forte e limpo, as gaivotas pairavam ruidosas sobre o mar tranquilo, e o vento trazia os primeiros sopros de um Outono tímido que começava a chegar. De súbito, aquela voz familiar interrompeu a música, com a pronúncia inconfundível e a meiguice que ele jamais tinha esquecido:
«Armando, promise you show me the sea one day, honey?»
E a música continuou a sua balada triste. O Rei voltou-se de repente para o banco de trás, procurando a explicação para o que podia ter sido apenas uma alucinação, mas atrás não havia nada a não ser o austero e principesco banco revestido de couro. Era a voz da Cindy, tão jovem e tã0 doce como a primeira vez que a tinha escutado, num bar em Austin, em sessenta e quatro. Viveram juntos durante dois anos, muito antes de ter conhecido aquela que viria a tornar-se na sua esposa para o resto da vida. Eram jovens e estavam apaixonados, faziam planos para o futuro, mas tudo se perdeu pelo caminho, e apenas ficaram algumas boas recordações.
Puxou a fita da cassette atrás, lembrando-se de que aquele pedido poderia ter sido gravado entre a música por alguma ocasião de que já não se recordava, mas a música tocou seguida, sem quaisquer interupções, sem a voz da Cindy.
A hora do almoço estava próxima, e era altura de regressar a casa. E lá foi o Rei estrada fora, ouvindo as músicas da sua vida, recordando os seus cabelos loiros, os olhos azuis e o ramo de margaridas na mão, colhidas depois de um passeio no campo num fim-de-semana, tão longe de casa e tão longe do mar.

Friday, September 15, 2006

Nuvem de Fumo

Ela fumava o cigarro tranquilamente, com um ar de prazer no rosto, não sei se era pelo tabaco, se pelos elogios que lhe tecia.
«És habilidoso com as palavras, disso não há dúvida. Quantas já conquistaste assim?»
«Nenhuma, creio. Até porque não sou muito bonito.»
Ela olhou para o chão, sorrindo. O seu silêncio veio como uma confirmação, e senti-me triste por instantes, porque ela era bonita, alguém por quem me poderia apaixonar.
«Gosto da tua voz, sabes? Conquistavas muitas através dela.»
«Tu, por exemplo?»
«Eu não, já vi que és o produto genuíno. Em breve estarás a partir, e eu não procuro um amor de cinco dias.»
«E porque é que dizes isso? Não está nos meus planos partir, tenho cá casa, emprego,...»
«Eu sou feiticeira, consigo ver tudo o que te disse.»
No seu rosto não havia o menor indício de ironia. Pedi-lhe que me provasse o que dizia.
«Não acreditas? Então observa esta nuvem de fumo: vai tomar a forma de uma sardanisca.»
E com uma baforada longa, expeliu uma nuvem difusa que aos poucos tomou uma forma dançante no ar, compondo-se lentamente no pequeno réptil de cauda longa e cabeça em forma de losango.
Já passaram sete dias, e eu nunca mais a vi. Finalmente decidi deixar aquele maldito emprego.

Wednesday, September 13, 2006

Fora do meu tempo

Nunca pensei que ao fim destes anos a quinta lâmpada do túnel continuasse fundida, a única, tal qual a encontrámos naquela tarde, depois das aulas, no ano em que finalmente aceitaste namorar comigo. A escola ficava perto da linha do comboio, e porque não querias ouvir os comentários parvos dos colegas e porque eras audaz e aventureira fomos para o túnel. De trinta em trinta metros havia uma reentrância na curvatura da pedra onde apareciam umas portinholas de metal pintadas de preto, iluminadas por uma lâmpada de cor amarela mortiça, que tudo tornava igual, debaixo da sua luz. Deste-me a mão e desatámos a correr pelo túnel fora, querias ir para uma parte mais escura porque metia mais medo, e foi então que reparaste que a quinta saliência tinha a lâmpada fundida. Era um local seguro para cabermos os dois, protegendo-nos dos comboios que passavam a cada quinze ou vinte minutos. E foi naquele canto escuro recortado na pedra, húmido e frio, com a gravilha invisível sob os nossos pés - reconhecível apenas pelo seu ruído típico enquanto era calcada - que nos beijámos com a fúria da nova descoberta, abafando o silêncio num rumor ofegante até secar as línguas animadas, até dissolver ambas as salivas num alimento indivisível comum, contendo um pouco de cada um de nós. «Se não me metes as mãos nas mamas, acaba-se já aqui o namoro», disseste com a maior das naturalidades, porque era exactamente aquilo que querias dizer, porque não era preciso conversa redundante que poluísse a ideia original. Claro que fiquei grato à escuridão por ter ocultado a minha expressão de terror, mas logo me habituei à tua franqueza, e certo era que não queria que acabasse ali o namoro. Tinhas umas mamas estupendas para os quinze anos de então, eram grandes - porque apenas o tamanho importava entre a rapaziada naquele tempo - e tinhas uma grande propensão a intumescer os mamilos muito para além do disfarçável. Era por isso que te chamavam a «Faroleta». Para mim era a primeira vez que experimentava semelhantes sensações, deixava os dedos abertos e esticados embaterem e contornarem as pequenas formações tensas, excitado pelo risco acrescido que surgia sempre que uma composição percorria o túnel a grande velocidade, fazendo um barulho insuportável, levantando uma corrente de ar que ainda mais te despertava.
«De que estás à espera? Beija-as!» E guiado apenas pelos dedos, como um Braille natural tão antigo como a Humanidade, flecti um pouco um joelhos, para iniciar um longo e prolongado sorvo, de olhos fechados para tentar imaginar como seriam sob a luz do sol, para conseguir distinguir a textura endurecida, para desmontar cada uma das componentes do seu gosto adocicado, morno e materno. «Em que pensas?», perguntou-me após alguns momentos. «Penso no solo de saxofone da Just the way you are, do Billy Joel», disse sem saber porquê.
«Hum, não conheço», disse com indiferença.
«É natural, não é do teu tempo.»
«Quando falas assim pareces tão velho, como se tivesses vivido noutra época!»
E tinhas razão, estava fora do meu tempo, e ainda hoje estou. Mas por outro lado, as coisas não mudaram assim tanto. Afinal de contas, o nosso canto continua tão escuro como naquela tarde, e sinceramente duvido que se lembrem um dia de trocar a lâmpada.

Tuesday, September 12, 2006

Regra Nº3 revisitada

Parece que o objectivo de publicar mais do que uma vez por dia está longe de ser cumprido, o que me obriga a reescrever a regra Nº3: Procurar publicar todos os dias.

E mesmo assim não será fácil de o conseguir.

PS: Finalmente consegui adicionar a Pantera Cor-de-Rosa ao layout. É um bicho muito simpático, e a maneira pausada como fecha as pálpebras dá-lhe um ar intelectual, conhecedor, não dá?

Monday, September 11, 2006

Desejo no fim de Verão

Durante a madrugada, surgindo por entre o nevoeiro espesso e húmido que arrefece a noite, chegará uma traineira com uma encomenda para ti, Sónia Manuela. Vem da imensidão do oceano, de lugares onde nem os teus sonhos algum dia poderão alcançar. Tem dois metros de altura, um rosto jovem e másculo, de uma beleza mitológica que suplanta os teus amores impossíveis de respiração cortada; é musculado e torneado por um cinzel que celebra a perfeição da anatomia, e se das riquezas terrenas também fazes gosto, então este que te trago é rico até ao último recanto das suas entranhas mais escondidas... E agora descansa, porque a traineira ainda vai longe, para lá da tua vista.

Mas Sofia Manuela não conseguia dormir, excitada com a encomenda prometida. Afinal era verdade a história que a sua avó lhe tinha contado, apesar de a ter julgado como um sinal de perda do seu juízo: «Agora que o Verão chegou ao fim, se não conseguiste um namorado, então abana o guizo a um gato preto e ele dar-te-á um à medida dos teus desejos.»

O Pantufas tinha falado com uma clareza inconfundível, antes de se escapulir porta fora, desaparecendo no escuro do corredor ao som do seu pequeno guizo.
Era agora uma questão de tempo até que ele chegasse só para ela, aquele que ultrapassava na concepção o melhor que a sua fantasia podia imaginar.

Saturday, September 09, 2006

A modernização

«Se quiseres até posso apresentar-te. Chama-se Carolina e tem dois botões atrás, no fundo das costas, como um joystick; ou como uma máquina de flippers.»

Os flippers foram populares em tempos, nos salões de jogos que foram caindo em desuso com o avanço tecnológico nos jogos para PC e com o advento das consolas. Segurava-se a máquina pelos lados, e com os dedos indicador e médio pressionava-se os botões laterais, para atirar a bola contrariada de volta para a mesa com inclinação. Se por acaso ela ficasse encravada, era possível dar uma palmada mais forte na chapa da máquina para desencravar a bola, mas se fosse em excesso de força ou do número de vezes, o jogador corria o risco de provocar um «tilt», e os botões deixavam de fazer efeito.

Hoje os jogos são gozados em casa, em detrimento dos salões. os botões passaram para a frente, para um «gamepad» muito completo. Nos jogos de corridas de carros há um para acelerar e outro para travar, nos jogos de lutas um serve para atacar, ao passo que o outro defende os golpes do adversário.

A tecnologia avança com os tempos, ao ritmo da Lei de Moore. E nós temos que a acompanhar, temos que modernizar-nos, não é?

Sim, se for possível gostava que nos apresentasses.

Thursday, September 07, 2006

As Regras de Funcionamento

Este blog vai servir-me de bloco de notas para as ideias que vou tendo ao longo do dia que possam ser eventualmente utilizadas para trabalhos de ficção. Podia fazer o mesmo sem ter que recorrer a um blog, mas cheguei à conclusão que não gosto de andar com blocos de notas, nem gosto de tomar apontamentos em público; sou também bastante preguiçoso, por isso a eventual consulta do blog por outras pessoas poderá obrigar-me de certa forma a preenchê-lo regularmente com as ditas ideias, contribuindo para a minha produtividade.
Os comentários também podem tornar-se úteis para o meu propósito na medida em que as opiniões externas podem ajudar-me a desenvolver determinadas ideias, ou riscar outras de valor reduzido.

Regras que eu devo seguir:

- Desenvolver as pequenas ideias o suficiente para serem posteriormente aplicadas nos meus trabalhos (evitar publicar considerações telegráficas que nem eu mais tarde saberei no que pensava quando as escrevi, tornando o material inútil);

- Publicar no blog a ideia o mais rápido possível após a sua concepção inicial. Desta forma evito a perda de pormenores importantes que normalmente se formam logo na fase inicial, quando o trabalho toma a primeira forma na mente;

- Procurar conseguir mais do que uma publicação por dia, de modo que ao fim do dia possa sempre ter material novo disponível para utilizar como matéria-prima (ao ritmo exigente das mil palavras por dia é importante não perder tempo na busca de novas ideias no momento do trabalho propriamente dito);

- Manter a atenção e o espírito aberto ao material circundante. A quantidade de ideias tem como único limite diário a capacidade de observação e interpretação à luz do mundo criado no meu quarto. Tudo pode ser utilizado como matéria útil, apesar da existência de dias providos de situações mais favoráveis (a rotina diária da vida real limita a visão fantasista);

- Produzir regularmente, e ser indiferente ao número de visitas do blog. Mesmo que o contador marque apenas as minhas visitas, devo ser persistente e disciplinado para manter um débito de trabalho constante e de melhoria contínua. O blog foi criado por mim, e para mim, e é segundo este princípio egoísta que o devo manter e utilizar.

Erros que eu devo evitar:

- Fazer referência a nomes, cidades, ou lugares que existam na vida real. Mesmo que neles me baseie para um trabalho, devo cingir-me a uma perspectiva fantasista cuja distorção da realidade garante que esta perde os elementos que a poderiam caracterizar quanto ao lugar da sua acção e quanto aos seus intervenientes.

- Concentrar um número elevado de ideias num curto espaço de tempo, para depois parar na publicação por um período de duração prolongada. Neste processo o mais importante não é o número de ideias em si, mas sim o estabelecimento de um processo contínuo de trabalho e aprendizagem. Após os picos de produção vêm momentos de paragem muito longos - devo evitar tal situação.

- Desviar-me das regras que eu próprio defini. Toda a matéria do meu quarto é dotada de um estilo e de uma vida singulares, com características que vou gradualmente aprendendo a conhecer. O meu quarto servirá para criar matéria que espero tornar mais perfeita com o tempo, e mais clara na sua natureza. Se outras coisas eu quiser escrever, mesmo que não sejam matéria de trabalhos, que o faça noutro lugar.


Já cheguei a casa. Em breve estarei a entrar no meu quarto...

A arrumação do quarto

Já consegui mudar umas coisas e agora parece melhor. Aí está o rosa choque de um projecto passado da net, e mais algumas alterações. Agora também tem um contador que, apesar de ainda não ter recebido nenhuma visita para além da minha, já marca 18 entradas, graças às pequenas mudanças que vou fazendo.

Ainda está a modos que feioso, mas também nunca tive grande habilidade, paciência ou gosto estético para o webdesign. Assim, após a cópia de algum código html e de uma ajuda externa preciosa, declaro o layout como pronto para as próximas temporadas.

Sunday, September 03, 2006

Pontapé de Saída

Para algo que andei a evitar durante bastante tempo, mas que acabei por fazer, e que é a criação de um blog. Em breve escrevo o motivo que me levou a fazê-lo, e os moldes em que o quero a funcionar.

Para já ando a aprender como é que se mexe nisto, como é que se muda a aparência (para já fica com esta, uma das pré-definidas que quero tornar mais a meu gosto), como é que se gere os comentários, etc.

So far, so good.