Monday, February 05, 2007

As histórias secretas

E quando mergulhava debaixo de água o som era apertado, contido, como se a pressão por si só falasse aos ouvidos, como se aquele grito oco fosse a voz do próprio mar, revelando continuamente os seus segredos, embora fosse impossível ficar a escutá-lo o tempo suficiente para uma história completa. E era então necessário regressar à superfície, onde o som fazia sentido e dizia aquilo que eu estava habituado a escutar, e que me rodeava desde o dia em que nasci.

Mas era curioso e voltava a mergulhar, e logo voltava então som que me apertava e comprimia com o seu grito surdo, o qual havia perdido a conexão com os sons dos mergulhos anteriores, quebrando a história a um ponto irreversível, roubando-lhe todo o sentido que para mim nunca adquirira, talvez por passar tão curto tempo sob o seu desenlace.

Logo ficava outra vez sem ar e regressava ao ar carregado da superfície, iluminado pelo clarão amarelo branco forte que me encandeava lá ao longe, sobre a mesinha-de-cabeceira. E os meus olhos fechavam-se um pouco, surpreendidos pelo ferimento de luz repentino. E logo a minha cabeça era puxada de novo para o mar, apagando a luz enquanto contraía os meus ouvidos com as suas coxas salgadas, querendo ansiosamente contar-me a história que repetidamente me escapava.

A água era ácida, atrevida e poluída, mas ainda assim quis sorvê-la em pirolitos irreflectidos. Em menos de um minuto tive que regressar de novo à superfície, para respirar e viver. E a história quebrou-se novamente, e todo o seu sentido foi perdido, enquanto sob a luz crua e directa um fio escorria brilhante pelo queixo, reflectindo a riqueza dos tesouros que ainda havia por descobrir naquelas profundezas revoltas e contadoras de histórias por desvendar...

1 Comments:

At 10:25 PM, Anonymous Anonymous said...

que bom ter-te de volta prof!

já tinha saudades da vista que a janela do teu quarto oferece =D

 

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