Monday, October 16, 2006

A namorada moderna

«Eu também já vi a tua fotografia, és muito bonita, sabias? Parece estranho falar contigo assim por um chat, não nos podemos ver, é estranho! Mas estou a gostar muito de falar contigo!»
«Quais são os teus interesses?»
«Acho que são os de toda a gente, gosto de passear, gosto de ler, de ouvir música, de estar com os meus amigos...»
«Tens muitos amigos?»
«Tenho alguns! Não são muitos, mas são dos bons, entendes?»
«Entendo! de que música gostas?»
«Ah, acho que gosto de um pouco de tudo, desde coisas mais comerciais até à música clássica, o jazz. Não sou esquisito!
«Esquisito? Ah! Gosto de pessoas diferentes e interessantes, como tu!Tens uma foto tua que eu possa ver?»
«Tenho, acabei de te mostrar à pouco, lembras-te?»
«Ah, sou tão esquecida! ihihihi!»
«Não faz mal! Queres que te mande a foto outra vez? A que te mandei era pequena, posso mandar-te igual mas com a resolução grande»
«É assim que eu gosto, garanhão! Aposto que és musculado e bonito...»
«Hã? Essa confesso que me não percebi... esse comentário foi um bocado esquisito!»
«Esquisito? Ah! Gosto de pessoas diferentes e interessantes, como tu!Tens uma foto tua que eu possa ver?»
«Bem, parece que és um bocado repetitiva nos comentários... um bocado mecânica, entendes?»
«Entendo! de que música gostas?»
«Sei que não gosto da música que me estás a dar, programada por um merdas qualquer com um problema sério, muito grande»
«É assim que eu gosto, garanhão! Aposto que és musculado e bonito...»
«E tu não existes, és tão oca e tão triste como os circuitos do servidor onde estás alojada em forma de insípidos zeros e uns. És zero, nada, burra de merda, lembras-te?»
«Ah, sou tão esquecida! ihihihi!»
«Estúpida como o teu programador, lembras-te?»
«Ah, sou tão esquecida! ihihihi!»
«E agora vou desligar isto e sair um bocado, falar com pessoas que existem no mundo real e que conseguem fazer-me companhia, com que eu posso conversar, pessoas a sério feitas de carne e osso e de sentimentos verdadeiros que tu nunca saberás como emular, entendes?»
«Entendo! de que música gostas?»

3 Comments:

At 11:28 PM, Blogger Cortez said...

Hum... :)

É esse mesmo o meu ponto. E o mais curioso é que este tipo de personagens virtuais em chats já são uma realidade.

Neste post só quis experimentar a coisa de uma forma muito básica, tentar o conceito. Bem explorado, imagina só uma personagem com milhares de frases pré-concebidas, preparadas a serem utilizadas numa conversa natural? Imagina o que é encontrar o algoritmo das conversas em chats... aposto que as variações são muito menores do que se pode pensar. E agora imagina a multiplicação destas personagens virtuais e o surgimento de diálogos entre elas... E tu que és real, já não saberias com quem ou o quê é que realmente estarias a falar. E no extremo, a postura das máquinas acabaria por «educar» os utilizadores reais no pensamento e no vocabulário, na forma de estar. Scary, huh? :)

Esta gaita dava um romance do caraças Black Bird. Tenho seriamente que pensar nisso.

Obrigado pela tua presenaça assídua no quarto e pelos comentários sempre impecáveis. Mais do que um gosto, eles são muitas vezes uma ajuda. :)

 
At 12:14 AM, Blogger T said...

Eu tinha vergonha, de andar sempre metida no quarto dos outros:P

Mas eu acho que ninguém nunca está sozinho. Mesmo quem quer estar sozinho não está. Quem acha que está sozinho também não está. Mas isto não é cliché, porque o que eu acho é que estar sozinho/acompanhado não é estar sequer consigo mesmo.

Isso dos algoritmos é um problema tão filosófico e racional quanto prático. É como decidir se mudamos de Windows para Linux. [Porque os seres humanos odeiam decidir e a consciência parece que só existe para nos incomodar]

 
At 2:30 AM, Blogger Cortez said...

O prazer é todo meu em receber tão ilustres visitas como a tua :)

 

Post a Comment

<< Home