Friday, September 15, 2006

Nuvem de Fumo

Ela fumava o cigarro tranquilamente, com um ar de prazer no rosto, não sei se era pelo tabaco, se pelos elogios que lhe tecia.
«És habilidoso com as palavras, disso não há dúvida. Quantas já conquistaste assim?»
«Nenhuma, creio. Até porque não sou muito bonito.»
Ela olhou para o chão, sorrindo. O seu silêncio veio como uma confirmação, e senti-me triste por instantes, porque ela era bonita, alguém por quem me poderia apaixonar.
«Gosto da tua voz, sabes? Conquistavas muitas através dela.»
«Tu, por exemplo?»
«Eu não, já vi que és o produto genuíno. Em breve estarás a partir, e eu não procuro um amor de cinco dias.»
«E porque é que dizes isso? Não está nos meus planos partir, tenho cá casa, emprego,...»
«Eu sou feiticeira, consigo ver tudo o que te disse.»
No seu rosto não havia o menor indício de ironia. Pedi-lhe que me provasse o que dizia.
«Não acreditas? Então observa esta nuvem de fumo: vai tomar a forma de uma sardanisca.»
E com uma baforada longa, expeliu uma nuvem difusa que aos poucos tomou uma forma dançante no ar, compondo-se lentamente no pequeno réptil de cauda longa e cabeça em forma de losango.
Já passaram sete dias, e eu nunca mais a vi. Finalmente decidi deixar aquele maldito emprego.

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