Friday, September 29, 2006

O muro branco

Como era possível, ela não conseguia explicar, nunca tinha ouvido semelhante coisa e tinha a certeza absoluta que não tinha guardado no seu computador - nem tão pouco copiara para o leitor de MP3. E não o emprestara a ninguém, isso era certo, e por isso como aquela música misteriosa tinha ali ido parar era um mistério.
A primeira vez que a escutou estava deitada na relva do parque, ao fim do dia de Verão. Era uma balada bonita, cantada por um tipo que parecia ser novo pela voz (agradável, por sinal), e com um refrão que dizia qualquer coisa deste género:


...E quando vires o muro branco
Não o contornes, não corras tanto
O portão não vai chegar tão cedo
E o teu tempo já não é demais

E quando chegares à floresta rosa
Escuta o pássaro, aprende o canto
Se queres beber do seu bico
Tens que saltar o muro branco.

A melodia entrava facilmente no ouvido, e a voz daquele estranho era a perfeita companhia para o descanso no relvado, onde ela acabou por adormecer. Acordou quando o sol estava prestes a pôr-se ao longe, no horizonte. Lançava a sua língua pela última vez naquele dia, tomada de tons de fogo áspero, lambendo a copa das árvores ao fundo do parque, onde os pássaros se recolhiam. O leitor de MP3 tinha entrentanto ficado sem bateria, enquanto dormia. Mas ainda havia luz suficiente para entrar por entre as árvores.

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