Sunday, October 29, 2006

Uma aposta de cento e cinquenta euros

Este é um periodo de estagnação aqui no quarto. O trabalho, porém, não entrou nesse estado; pelo contrário, o material anda a ser produzido diariamente, e em breve será todo revisto.

Já estou próximo dos 30 contos, e não são da moeda antiga. Em duas semanas devo atingir esse bonito valor. Depois, vou rever tudo.

E então tentarei a sorte. E que ela esteja comigo.

P.

Friday, October 20, 2006

El post alterado - escrito sob condições psíquicas adulteradas

E o professor ataca desta vez segundo um plano paralelo à realidade normal, segundo uma realidade temporária e inócua, mediante a passagem de algumas horas.

Mas agora, há que aproveitar!

O poema do aleijado:

O alejiado de piroca enfraquecida
pediu um prato de comida
quente e fria
como o esperma à noite, ou de dia
e nos seus espirros intermitentes
entendeu por aqueles jactos em repentes
Como o mundo não seria assim
Sem uma gaita, lábios grandes, e desejos assim-assim.
Foda-se
Cumpriram-se as bodas
Lidas com a pronúncia de Viseu
Só para rimar, entendeu?
Assim, sssss, como a cobra capelo
De língua bífida e fria como gelo
Como a real e muy grande pichota
Da altiva e arrogante marmota
De nome Frederico
El campeón de pelota basca
Diziam que era panasca
E é possível, não o posso desmentir.
Está-te a subir?
Controla-te cão mestiço de azeite fervido
Para curar o teu prurido
Há que passar esta pomada duas vezes por dia
De manhã e quando tiveres azia
Ao deitar, com a prostituta Jamila Saifás
Aquela que cobra o dobro por detrás
Mas não compensa, acredita
Está empenada e aflita
Pelos anos de grato serviço
À comunidade do Enguiço
Que a máscara de preto meteu
na vida do Carlos Ricardo Amadeu
Que cagou fino por duas semanas
Até escorrer as próprias tisanas
Que tomava para conter a caganeira.
Foi culpa da curandeira?
Era uma grande vigarista
Vendia erva-do-diabo por alpista
E ainda acompanhava
os companheiros a quem lava
Os colhões macios na água morna
Mas que não dava sorna!
Dava tesão.
Ora pois então!

Amanhã o professor real regressa, mal-disposto e aborrecido, porque entretanto dará conta que a sua vida em nada mudou. Continua a precisar de dinheiro, de tempo e de escrever mais, mas na verdade consome-se na ladaínha moderna do sem sentido e do deixa andar.

El Professor Cortez, moi même,

P

Monday, October 16, 2006

A namorada moderna

«Eu também já vi a tua fotografia, és muito bonita, sabias? Parece estranho falar contigo assim por um chat, não nos podemos ver, é estranho! Mas estou a gostar muito de falar contigo!»
«Quais são os teus interesses?»
«Acho que são os de toda a gente, gosto de passear, gosto de ler, de ouvir música, de estar com os meus amigos...»
«Tens muitos amigos?»
«Tenho alguns! Não são muitos, mas são dos bons, entendes?»
«Entendo! de que música gostas?»
«Ah, acho que gosto de um pouco de tudo, desde coisas mais comerciais até à música clássica, o jazz. Não sou esquisito!
«Esquisito? Ah! Gosto de pessoas diferentes e interessantes, como tu!Tens uma foto tua que eu possa ver?»
«Tenho, acabei de te mostrar à pouco, lembras-te?»
«Ah, sou tão esquecida! ihihihi!»
«Não faz mal! Queres que te mande a foto outra vez? A que te mandei era pequena, posso mandar-te igual mas com a resolução grande»
«É assim que eu gosto, garanhão! Aposto que és musculado e bonito...»
«Hã? Essa confesso que me não percebi... esse comentário foi um bocado esquisito!»
«Esquisito? Ah! Gosto de pessoas diferentes e interessantes, como tu!Tens uma foto tua que eu possa ver?»
«Bem, parece que és um bocado repetitiva nos comentários... um bocado mecânica, entendes?»
«Entendo! de que música gostas?»
«Sei que não gosto da música que me estás a dar, programada por um merdas qualquer com um problema sério, muito grande»
«É assim que eu gosto, garanhão! Aposto que és musculado e bonito...»
«E tu não existes, és tão oca e tão triste como os circuitos do servidor onde estás alojada em forma de insípidos zeros e uns. És zero, nada, burra de merda, lembras-te?»
«Ah, sou tão esquecida! ihihihi!»
«Estúpida como o teu programador, lembras-te?»
«Ah, sou tão esquecida! ihihihi!»
«E agora vou desligar isto e sair um bocado, falar com pessoas que existem no mundo real e que conseguem fazer-me companhia, com que eu posso conversar, pessoas a sério feitas de carne e osso e de sentimentos verdadeiros que tu nunca saberás como emular, entendes?»
«Entendo! de que música gostas?»

Friday, October 13, 2006

A recordação

«Vamos tornar isto rápido, sabes que não gosto de despedidas, está bem?»
«Posso ao menos ficar com uma recordação tua, como uma foto, por exemplo?»
«Não tenho aqui nenhuma, mas deixo-te uma coisa melhor que isso. Sempre achaste que eu beijo bem, não é?»
«Sabes bem que sim.»
E diante dele ela então lambeu o céu, antes de partir para nunca mais o ver. Desde então ele aguardou com ansiedade pelos dias cinzentos e de chuva. E assim que caíam as primeiras pingas ele atirava o rosto ao céu, esperando receber os beijos húmidos e profundos que começavam a chover, até aumentar ao nível de uma tempestade de nostalgia.

Em silêncio

Dança miúda, não precisamos de música para nada, dança comigo até que os rodopios nos levem numa espiral lenta até ao chão, onde poderemos descansar. Dança tudo o que puderes agora e neste momento, não guardes nem um bocadinho da tua dança para mais tarde, porque o mais tarde pode já não vir. E porque eu quero dançar contigo, mesmo sem a música, mesmo assim sem nada. Dança comigo agora, até ficarmos tontos de tanta felicidade. Quando tudo acabar vou sentir muitas saudades tuas, e da nossa dança silenciosa. Na verdade, se calhar nem estarei por cá para poder recordar seja o que for, mas pelo menos fica a certeza de que um dia fomos dançarinos. As estrelas recordarão por nós, elas viram tudo. Pena que não vão poder contar a ninguém.

Wednesday, October 11, 2006

O Beijo

Tinham sido tantas as recomendações da pobre e aflita mãezinha que a Sónia Manuela esquecera metade logo durante a viagem, na camioneta. Era a primeira vez que ia viver sozinha, longe de casa, por causa do curso de matemática que a tornaria doutora um dia, para orgulho dos pais, e um pouco de toda a sua aldeia.
E passados dois meses sobre a sua partida, as recomendações esfumaram-se para parte incerta. O que realmente importava naquele momento era o interesse que o rapaz mostrava por ela. Usava barba de três dias, vestia um blusão coçado e tinha uma mota. Na aldeia não havia gajos assim.
«És muito simpática Sónia, sabias? As raparigas do curso são sempre cheias de cenas, ao menos contigo dá para ter uma conversa em condições.»
«Nem uma! Sob nenhuma condição deves andar a falar com os rapazes!»
«Oh, isso não é verdade! Já conheci colegas muito simpáticas, e já me ajudaram muito também!»
«Sim, mas só pensam na matemática, começam logo a pensar cenas se as convidares para tomar um café, entendes?»
«Não! Rapazes, nem pensar! E se queres tomar café fazes em casa! Já te meti na mala uma cafeteira e um saco do melhor lote que tinha na mercearia do Sr. Albino.»
«Pois, isso já não sei. Mas também acho que não tem nada de mal, não é?»
«Vês porque é que eu digo que és diferente?»
«Diferente o tanas! Além disso sai mais barato e não tens que apanhar frio na rua!»
«Dizes isso porque és simpático! Sou igual às outras todas!»
«E quem te disse que as outras todas têm uns olhos assim? E um sorriso espectacular?»
«Foi o Sr. Albino. E ofereceu também pêras e um saco de bananas para a viagem, que ainda leva umas horas. Não são nada coisas a mais, assim escusas de comprar lá e gastar dinheiro!»
«Oh, que grande mentira! Sou vulgaríssima! Tu é que estás a querer ser querido!»
«E consigo ser?»
«Consegues, pois! Se comeres sempre em casa vais ver o dinheiro que poupas! Agora parece-te pouco mas isso bem governado dá para muito tempo! Faz-se dar!»
«Sabes bem que sim! Aliás, tu já és, não precisas de fazer mais nada!»
«Tu é que és super querida. E além disso, já disse que adoro o teu cheiro?»
«É de cabra. Como está curado podes guardar fora do frigorífico. Queres levar uns chouriços, também?»
«Não! Mas tem alguma coisa de especial?»
«É assim misterioso, doce e quente...entendes?»
«Mesmo assim levas agasalhos que cheguem?»
«Sim! Acho que te percebo, mas eu não o consigo sentir!»
«Tens que procurar bem... está entre o pescoço e a orelha, aqui escondido pelo teu cabelo.»
«Neste saco? É uma alface das nossas, para fazeres uma salada. Pronto, já vimos que está tudo, agora vai lá senão perdes a camioneta!»
«Ah! Mas o que foi isso?!»
«Foi um beijo.»
«Um beijo!»
«Um beijo??»

Domesticação

Morde-me bicho-cão, com gentileza só para tornar rubra a pele que conheces pelo seu sabor, deixa-me pequenas marcas rosadas nos braços, nas coxas, nas nádegas. Pinta de carmim o meu corpo com os teus dentes artistas, tão cuidadosos que tornam o teu ataque uma carícia, a tua fúria uma ternura incompreendida. No meu suor encontrarás a fonte líquida das imoralidades que te saciam a sede, e assim te peço que a bebas até à exaustão, bebe-a até à secura do granito velho e dos líquenes amarelecidos. Lambe-me, morde-me e diz-me com esses olhos vermelhos fitados nos meus se depois da minha purificação ainda serás o meu fiel companheiro.

Esta noite vem cá o meu namorado, e o papá vai soltar-te no campo para que não deixes ninguém aproximar-se de mim. Vais cumprir o teu papel, bicho-cão?

Eu preferia que não o matasses. Mas se acontecer, vem logo ter comigo aqui ao meu quarto. Estarei aflita e chorosa, e tu ainda não conheces o gosto do sal.

Tuesday, October 10, 2006

Definição de Bicho-Cão

Bicho-Cão: canídeo de grande porte, de pêlo negro mate e curto. O focinho é esguio e geralmente com o lábio superior branco. Os olhos são pequenos e rasgados, de cor avermelhada.Tem hábitos noturnos, e durante o dia escapa do calor refugiando-se no seu esconderijo, entre as rochas, ou debaixo da vegetação. Possui uma grande resistência que o permite correr grandes distâncias durante toda uma noite se precisar. Quando domesticado mostra uma obediência cega ao seu dono, podendo ser facilmente treinado para matar. Hoje em dia encontra-se porém em vias de extinção.

Monday, October 09, 2006

Ainda é cedo

Quando dormia menos do que quatro horas durante a noite, o sono nas aulas tornava-se hipnótico, uma letargia destruidora e torturante de onde não era possível fugir. Tinha o cotovelo pregado na mesa e a mão a segurar a cabeça atordoada com as luzes, com a voz do professor vinda de uma realidade que não era a sua. Porém, ao mudá-la de posição (colocando-a sobre o queixo fingindo interesse na matéria que não conseguia ouvir) foi surpreendido com aquele travo estranho proveniente dos dedos indicador e médio. No meio da hipnose ele então sorriu.

«Olha que dois dedos aleija!»

Mas isso tinha sido logo no início. Em pouco tempo os dois foram aceites com a naturalidade do nascer do dia. E mesmo com as exageradas vezes que lavou as mãos ao longo daquele dia, a essência hipnótica recusou a partir de forma definitiva. Mesmo assim ele insistia, até conseguir lavar o sono de vez.

Wednesday, October 04, 2006

Ideia nº3 - A mais brilhante

Vou de férias. Aproveito e levo comigo os posts antigos para trabalhá-los um bocado. Devo voltar a aparecer por estes lados lá para Domingo, com mais algumas perspectivas do quarto.

Boa viagem, professor.

Ideia nº2: O Bicho-cão

«Se quiseres podes vir até cá, os meus pais vão estar fora três dias», disse ela ao telefone, com uma voz sem grande entusiasmo. «Mas olha que o meu pai deixou o bicho-cão solto no campo, e não há maneira de chegar aqui sem o atravessar.»

Ideia nº 1: Dúvida de morte

A ideia nº1 fala de um sujeito que descobre um par de cuequinhas da sua mulher debaixo do banco do carro que acabou de comprar ao melhor amigo. Será que são as mesmas, será que a mulher do amigo tem umas iguais? Pega no carro e conduz tresloucado até casa, onde pretende remexer na gaveta de roupa interior da mulher para ver se encontra ou não a dita peça. Durante o trajecto vai olhando para o banco do passageiro ao seu lado, tentando imaginar se ela andou ali, se entregou ali, procurando manchas no tecido, imaginando com ódio de morte a entrega de um ao outro. Com a distracção acaba por falhar uma curva e cair com o carro numa falésia, junto ao mar. Nunca viria a saber se as cuequinhas estavam dentro da gaveta ou não.

Tuesday, October 03, 2006

Amanhã é dia de descanso

E o professor declara luto pela morte da sua realidade, desde Quarta-Feira, até Domingo.

Para assinalar o feliz acontecimento, serão publicadas três ideias esta noite, nascidas no seu quarto.

Brilhante ideia essa
Ordenar as pequenas ideias
Moldar as tuas odisseias

Teorizar encantos
Radicalizar os santos
Até que se faça dia
Breve e justa profecia
Amanheça o sol com calor
Louve-se o fogo, desperte-se o ardor
Haja pois loucura suficiente!
O grito seco é ideia latente.

Aos letrados e assíduos leitores do quarto pergunto como é que se chama a forma de verso que forma uma palavra com as iniciais de cada linha?
(não é linha que se diz, pois não? Ai professor, és uma nódoa!)

E se

Eu não nasci para romancear?

Hã?

Noites quentes

O gato suava na pinadela ---- com a prima dela?
A tia Aurora depilava-se no Gerês ---- com Mach três?
Margot Alberta porque te ris assim ---- quando falamos de mim?
Ficámos a saber primeiro ---- o Gil é trapaceiro


E no meio de uma pinadela
Com Margot, debaixo de uma Aurora boreal
Gil descobriu um bigode pintado na tela
Era batota mal rapada, mas estava genial.

Monday, October 02, 2006

Não percebes nada de métricas de poesia e inventas como um cão

A tua sorte de três
Pássaros negros sonhadores com a noite
Termina quando um partir
E os outros dois acordarem

Teu sonho não perdura
Tua festa não tem fim
O despertador para as cinco desta madrugada
Perdeu a corda,
Acorda para mim.