Vera vandalizada ou Choque intencional
Nem o calor exótico e adocicado conseguia afastar Vera daquela melancolia de saudade pelo amor que se sumira com um golpe rápido e inesperado, terminando de forma abrupta todo o projecto a que já se tinha habituado a ver como o da sua própria vida.
Olhava triste pela janela, mirando a densa escuridão silenciosa, entrequebrada aqui e ali pelo cantar de um grilo ou de uma cigarra desperta, algures entre as ervas invisíveis. E o som do motor de um carro que passava na estrada, breve e desaparecido num escapulir rouco, representava bem as levas de angústia que a assaltavam de vez em quando, sempre que recordava a partida de Jorge, tão mal explicada quanto compreendida.
Era já tarde quando finalmente se decidiu a fechar a janela, vencida pela inutilidade das lágrimas interiores que vertia para a lua e pelo peso bruto e cruel da realidade que a esmagava e anulava. Sobre o tapete do quarto, o tigrado Baunilha lambia os bigodes, pesrcrutando a dona com ar admirado. Tinha acabado de defecar sobre o tecido fofo, e o seu dejecto ainda estaria fumegante, não fosse o calor que se fazia sentir dentro de casa. Tinha bebido leite a mais e o seu sensível organismo repelira o excesso atrevido do seu dono. E ao ver aquela papa liquefeita depositada na carpete laranja fogo de motivos arabescos, Vera sentiu um aperto ainda mais forte no seu peito, somando ao desgosto da perda de Jorge a infelicidade da merda do Baunilha que ainda teria que limpar...
1 Comments:
LOL! acho que bou bomitar monelhos de cavelo!!!
citando o Wanderley*: a tripa é onde a vaca faz cocô mas os portugueses adoram comer tripa pô.
*uma das personagens do programa Vai Tudo Abaixo, da Sic Radical ;)***
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